Sexta-feira, Julho 19, 2024

OS 22 MILHÕES PARA OS DEPUTADOS E A DEMAGOGIA DA POBREZA

A caminho da 6ª Legislatura desde a realização das primeiras eleições em Angola, em 1992, que a Unita, maior partido da oposição, tem assento no Parlamento. Diferente das outras, nas eleições de 2022, a Unita conseguiu eleger 90 deputados, incluindo indivíduos que sempre advogaram que os deputados não devem ganhar mais do que os professores e médicos.

Por: apostolado
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Todos estamos lembrados das inúmeras vezes em que o agora Deputado Nuno Álvaro Dala desfilava, na Avenida “Ho Chi Minh”, com dísticos: “Por que é que o Deputado ganha mais que o professor?”. Além disso, a bancada parlamentar da Unita sempre justificou os sucessivos votos contra a aprovação do Orçamento Geral do Estado por não alocar mais recursos para Educação e Saúde. Há 30 anos, desde 1992, que a Unita não vota a favor do OGE.

Entretanto, é intrigante que os únicos documentos que a Unita aprovou até à data, no Parlamento, foram aqueles que visam aumentar salários e benefícios para os deputados. Em 2009, no início da segunda legislatura, a Assembleia Nacional aprovou um aumento de 10 mil dólares na remuneração dos deputados, três vezes mais do que na legislatura anterior. Em 2013, houve um incremento nas despesas dos deputados de 10,2 mil milhões (valor global). Entre 2018 a 2019, os parlamentares aprovaram um aumento de quase 20% no salário base. Em 2020, os deputados receberam 4 milhões de Kwanzas de subsídios de Natal, além dos chorudos salários e benefícios correntes. Em nenhum destes documentos aprovados naquele hemiciclo, a Unita, que diz lamentar e lutar pelo precário estado de vida dos cidadãos, opôs-se

Este ano, face à crise financeira e, consequentemente, à queda vertiginosa da moeda nacional, a Assembleia Nacional aprovou um aumento de 100% no subsídio de instalação dos deputados. Os deputados passaram a receber 22 milhões de Kwanzas, dos quais 11 milhões foram acrescidos ao valor anterior. Essa medida foi aprovada sem nenhum voto contra e nenhuma abstenção. Não se viu algum defensor do aumento dos salários dos professores e médicos, nem mesmo aqueles que afirmam que costumam lacrimejar quando olham o povo a sofrer, a sugerir que seria o momento de todos deputados apertarem o mesmo cinto que muitas famílias apertam. Curiosamente, nem os representantes da sociedade civil, que sempre se indignaram com as regalias dos parlamentares quando estavam fora da “fuba”, demonstraram a mesma sensibilidade.

Numa publicação nas redes sociais, o deputado da Unita, Adriano Sapinãla, saiu em defesa tridente, com a justificação barata que o incremento do subsídio de instalação deveu-se em função de um ajuste face à desvalorização do Kwanza. Por outra, o líder da Unita, em conferência de imprensa, ontem, atribuiu a situação financeira actual aos gastos excessivos do governo durante as eleições. Ele parece ter esquecido que, em 2022, chorou perante os microfones da imprensa nacional e internacional que o dinheiro atribuído aos partidos políticos para participarem das eleições era insuficiente, facto que resultou num aumento feito pelo Presidente da República, João Lourenço, de 445 milhões de kwanzas (949 mil euros) para 1.112 milhões (2,6 milhões de euros) quase três vezes mais. No entanto, aqueles que dizem defender o povo da pobreza são, na verdade, hipócritas, pois nunca estiveram do lado dos pobres. Para zombarem com a nossa inteligência, a Unita faz uma fuga para a frente, dizendo que metade desse valor será doado aos mais necessitados. Pura demagogia. Por: Benjamim Dunda

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