
ABRUA – Associação de Basquetebol de Rua, a primeira escola de basquetebol de Angola, vai ser condecorada pelo contributo de retirada de adolescentes e jovens da delinquência. A distinção não poderia vir em melhor hora, numa altura em que o desporto, muitas vezes negligenciado pelas políticas públicas, mostra ser uma ferramenta poderosa de transformação social.
A homenagem que se aproxima é mais do que merecida: é um reconhecimento público da capacidade que o basquetebol — especialmente aquele feito com paixão e nas condições mais adversas — tem de mudar destinos. A ABRUA não é apenas uma escola de basquete. É um projeto de vida. É uma trincheira de resistência urbana contra a marginalização, o abandono e a violência que afetam milhares de jovens nas periferias de Luanda e de outras cidades angolanas.
Em vez de grades e punições, a ABRUA oferece tabelas, bolas, redes e, sobretudo, oportunidades. Ao ocupar os jovens com treinos, competições e formação em valores como disciplina, respeito e cooperação, a associação vem demonstrando que é possível reduzir a criminalidade juvenil com educação e desporto.
É importante frisar: a criminalidade entre jovens não nasce do nada. Ela é fruto do desemprego, da falta de acesso à educação, do desamparo social. Ao tirar adolescentes da rua e levá-los para a quadra, a ABRUA faz o que muitos governos deveriam fazer: investir preventivamente, antes que seja tarde.
Mas o que mais impressiona nesse projeto não é apenas sua eficácia, e sim sua origem humilde. Fundada por ex-atletas, treinadores e voluntários que conhecem de perto a realidade das ruas, a ABRUA nasceu do desejo de devolver à comunidade o que o basquetebol lhes proporcionou. É um exemplo de cidadania ativa que rompe a lógica da queixa para abraçar a ação concreta.
Contudo, é preciso ir além da condecoração simbólica. Projetos como este precisam de financiamento, apoio institucional, infraestruturas dignas e políticas públicas que reconheçam o desporto como pilar de desenvolvimento humano. A ABRUA já provou que com pouco se pode fazer muito — imagina-se o que fariam com um verdadeiro investimento?
Num país onde os índices de criminalidade juvenil ainda preocupam, e onde a juventude continua a lutar por espaço e dignidade, a ABRUA brilha como um farol de esperança. Que esta condecoração sirva de exemplo, não apenas de reconhecimento, mas de chamado à ação. Porque transformar vidas com o basquetebol não deve ser exceção. Deve ser política de Estado.
Nas condecorações que acontece nesta semana ABRUA na lista encontra-se na posição 114.
Jornalista Siona Júnior