O escritor Carmo Neto afirmou, em Luanda, que Viriato da Cruz é um símbolo histórico para a Nação, uma figura que deveria servir como meio de estudo, pois é um grande exemplo como pessoa, e se estivesse em vida ensinaria muitos valores para as gerações mais novas.
Carmo Neto fez essa afirmação, segunda-feira, na sede da União dos Escritores Angolanos, durante um en-contro sobre “A Dimensão Nacionalista de Viriato da Cruz”, que visou homenagear o político, líder anticolonial e escritor angolano, que completaria 95 anos, caso estivesse vivo, no passado dia 25 deste mês.
Durante a sua intervenção, o escritor trouxe à tona uma abordagem a volta das ideologias de Viriato da Cruz, um homem que colocava os interesses colectivos acima de tudo, primando sempre pelo bem-estar do povo angolano.
Carmo Neto aproveitou a ocasião para agradecer a Academia Angolana de Letras (AAL) pela iniciativa, mas defendeu a realização regular de encontros do género.
O presidente da Academia Angolana de Letras, Paulo de Carvalho, disse que o programa da instituição inclui homenagem a homens de letras, com destaque para figuras angolanas que inscreveram o seu nome na história do país.
“Esta iniciativa traz uma abordagem em torno de um símbolo nacional, de uma figura que tem uma dimensão enorme. Viriato da Cruz teve sempre presente consigo a identidade cultural, aquilo que faz de nós o que somos, um valor que a cada dia que passa, tem tornando-se raro em Angola”, afirmou.
Foi a tradição buscar os elementos positivos, continuou, que fazem com que nos diferenciamos dos outros povos, “além disso, lutou com todas as forças, contra a discriminação do angolano na sua terra, pela dignidade do homem negro e pela libertação do julgo colonial”.
Num discurso virado para a camada adulta, Paulo de Carvalho lamentou a pouca capacidade que os mais velhos actualmente têm, no que diz respeito a transmissão da história do país aos mais novos.
“Quantos jovens angolanos já ouviram falar de Viriato da Cruz? E quantos jovens angolanos sabem alguma coisa sobre este nacionalista e poeta? Infelizmente, a resposta a estas duas perguntas são decepcionantes”, desabafou.
A percentagem de jovens angolanos que alguma vez ouviram o nome de Viriato da Cruz, contou, seja inferior a cinco por cento da percentagem dos jovens que sabem alguma coisa sobre Viriato da Cruz, deve ser inferior a um por cento.
A responsabilidade por esse estado é nossa, dos mais velhos, que temos governado e gerido o sistema de ensino do país, que muito deseduca”, disse o presidente da AAL, que terminou a sua explanação, declamando um poema de Viriato da Cruz, intitulado “Makèzú”, passando de seguida a palavra, aos prelectores do encontro.
Durante cerca de duas horas e meia, os escritores Fragata de Morais e Carmo Neto abordaram sobre “A Dimensão Nacionalista de Viriato da Cruz”, fazendo menção a vários episódios que marcaram a vida do político, líder anticolonial e poeta angolano, que nasceu a 25 de Março de 1928, no Porto Amboim, e morreu a 13 de Junho de 1973, em Pequim, na China.
“Viriato Francisco Clemente da Cruz, ou simplesmente Viriato da Cruz, foi um nacionalista político e escritor angolano, que adoptou como pseudónimo de guerra, os nomes ‘Monamundo’ e ‘Sylla’, um político activo, fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola, e Secretário-geral do partido. Embora o seu nome não seja mencionado quando se referem aos líderes do MPLA, mas é provável que Viriato terá sido o primeiro líder do partido, pois no início a liderança era assumida pelo secretário-geral”, disse o escritor Fragata de Morais, um dos prelectores.
Nelson Pestana, um dos participantes que muito conhece sobre a história de Viriato da Cruz, foi convidado a dissertar, tendo apresentado uma abordagem consistente, que encantou os presentes. No final, Nelson Pestana fez uma chamada de atenção, no sentido de se fazer uma maior valorização da figura do homenageado.
“Viriato foi um homem que tinha muitas ideias, estava sempre a pensar, levantava questões para depois tentar resolver, por isso era diferenciado dos outros, foi alguém que largou tudo e deu o limite das suas forças, por esse país, e é necessário colocar essa figura numa posição que ela sempre mereceu”, concluiu.
À margem do encontro, o professor universitário Daniel Pereira, em declarações ao Jornal de Angola, mostrou-se satisfeito pela homenagem ao poeta, tendo afirmado que a actividade foi bastante proveitosa e oportuna. “Os mais velhos experientes, sobretudo os investigadores e historiadores vieram partilhar os seus conhecimentos a cerca do percurso e da vida de Viriato da Cruz com a nova geração, e para nós os mais novos é bastante satisfatório, visto que pouco sabemos sobre o nosso país”.
O professor sublinhou, também, que a figura de Viriato da Cruz não pode ser vista apenas na dimensão literária, mas também na política, sobretudo na do escritor político e revolucionário que ajudou muito na libertação de Angola.
“Os mais velhos deviam partilhar mais conhecimentos ligado ao Viriato da Cruz para que o seu espírito nacionalista inspire a nova geração e resgate valores na sociedade angolana”, disse.
Visita ao túmulo do poeta
O secretário-geral da Academia Angolana de Letras (AAL), António Quino, afirmou, segunda-feira, que o encontro sobre “A Dimensão do Nacionalista Viriato da Cruz” foi apenas o primeiro de dois momentos de homenagem daquela figura angolana, estando prevista para sábado, às 10h00, a deposição de uma coroa de flores na campa do nacionalista, no cemitério Alto das Cruzes.
António Quino afirmou que depois de tantas homenagens feitas pela da AAL, chegou a vez de reconhecer publicamente os feitos de Viriato da Cruz, “por ser uma figura emblemática para o país”.
“Começamos por homenagear Agostinho Neto, que é o patrono da Academia Angolana de Letras, e depois o Uanhenga Xitu. Agora, por ser o mês de aniversário de Viriato de Cruz aproveitamos para o homenagear, pelo facto de o mesmo ter contribuindo positivamente para que Angola fosse Angola de hoje”.
Viriato daCruz, sublinhou, deixou um legado político e temos que lembrar que o mesmo contribuiu para o processo fundacional do movimento popular de libertação de Angola, que é o partido que governa o país.
“O escritor político foi também um dos fundadores de um dos primeiros movimentos de partidos políticos em Angola do tempo colonial, o Partido Comunista Angolano e teve envolvimento no Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, que tinha como slogan ‘Vamos Descobrir Angola”’ , frisou António Quino.
Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Porto Amboim, Cuanza-Sul, a 25 de Março de 1928 e morreu em Pequim a 13 de Junho de 1973. Foi um político, líder anticolonial e escritor angolano.
Viriato da Cruz era filho de Abel da Cruz e de Clementina Clemente da Cruz. Já em Luanda, fez os estudos liceais no Liceu Salvador Correia.
Em 1948, lança o mote “Vamos Descobrir Angola”, época em que começou a frequentar a Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA) onde, com Higino Aires, António Jacinto e Mário António de Oliveira dirigia o sector cultural. Em 1951, foi editado o primeiro número da revista Mensagem e criado o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (MNIA).
Nos anos 1950 esteve em contacto com a movimentação anticolonial clandestina em Luanda, incluindo o Partido Comunista Angolano (PCA), fundado naquela altura. Abandonou Angola por volta de 1957 para se dirigir a Paris onde se encontrou com Mário Pinto de Andrade, desenvolvendo actividades políticas e culturais.
Fonte: JA