
A eventual decisão da UNITA em avançar com uma Ampla Frente que reúna partidos da oposição e sectores da sociedade civil revela que o “galo negro”, isoladamente, não consegue enfrentar o MPLA, alerta o analista de assuntos políticos Afonso Tavares, residente em França há mais de 30 anos.
Num momento em que se intensificam os debates sobre os caminhos da oposição rumo às eleições de 2027, Tavares afirma que a UNITA continua a enfrentar sérias dificuldades para impor a sua força como maior partido da oposição, particularmente desde a morte do fundador, Jonas Savimbi. Para o analista, a organização “não encontrou ainda estabilidade estratégica nem coesão interna suficientes para rivalizar politicamente com o MPLA em condições de plena autonomia”.
Segundo Tavares, a ideia de uma Ampla Frente — há vários anos debatida em círculos políticos — evidencia um esforço da UNITA para reforçar a sua base de apoio, compensando fragilidades estruturais e a incapacidade de mobilizar sozinha um eleitorado amplo. “A UNITA percebe que, sem alianças sólidas, dificilmente alterará o equilíbrio de forças instalado desde 1975”, observa o especialista.
A situação ganha ainda mais complexidade com o posicionamento de outras forças da oposição. Abel Chivukuvuku, líder do PRA-JÁ Servir Angola, tem reiterado publicamente que pretende governar ou integrar um futuro Executivo, sinal que, segundo Tavares, “indica que 2027 não será um ano confortável para a UNITA”.
Para o analista, as aspirações de Chivukuvuku, somadas à fragmentação persistente no campo oposicionista, podem dificultar o protagonismo político da UNITA mesmo dentro de uma eventual frente unificada. “O partido precisará redefinir estratégias, reforçar credibilidade e encontrar voz própria para não ser apenas mais um ator dentro de uma coligação complexa e competitiva”, afirma.
Enquanto o país aguarda pela evolução das negociações entre forças políticas, o debate sobre a liderança e o futuro da oposição ganha centralidade no panorama político angolano. A formação — ou não — da Ampla Frente poderá revelar, nos próximos meses, o verdadeiro peso político de cada ator e a real capacidade da UNITA de se reinventar antes do próximo ciclo eleitoral.
Jornalista Siona Júnior