
A democracia vive e respira na diversidade de ideias, na pluralidade de vozes e na liberdade de escolha. Em Angola, essa pluralidade tem sido um dos grandes desafios desde a independência. Mas imaginemos um cenário em que apenas três partidos — MPLA, UNITA e FNLA — existissem no país. Que tipo de democracia restaria?
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder desde 1975, tem sido a força política dominante. A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição, e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com menor expressão política nos dias de hoje, completariam esse trio. À primeira vista, poderia parecer que três partidos bastariam para garantir a alternância de poder e o debate político. Contudo, a verdadeira questão é: haveria espaço para novas ideias, novas gerações e novas formas de fazer política?
A limitação do sistema partidário a apenas três forças seria, na prática, um retrocesso democrático. A democracia não se constrói apenas na existência formal de partidos, mas na possibilidade real de participação de diferentes correntes de pensamento. A diversidade partidária é essencial para representar os múltiplos interesses da sociedade — juventude, mulheres, camponeses, empresários, artistas, entre outros grupos que dificilmente encontram voz nas grandes formações políticas tradicionais.
Além disso, um sistema restrito tende a cristalizar o poder, reforçando estruturas antigas e dificultando a renovação política. Com apenas três partidos, o risco seria transformar a política angolana num jogo de cadeiras entre os mesmos protagonistas de sempre, mantendo as mesmas práticas e os mesmos discursos que tantas vezes têm frustrado as expectativas do povo.
Portanto, uma Angola com apenas três partidos não seria uma democracia vibrante, mas uma democracia limitada — talvez até uma ilusão de pluralismo. O fortalecimento da democracia angolana passa, ao contrário, por incentivar o surgimento de novas forças políticas, dar espaço à sociedade civil e garantir eleições verdadeiramente livres e competitivas.
A democracia só floresce quando o povo tem opções reais. Reduzir essas opções é, em última instância, reduzir a própria voz do cidadão angolano.
Jornalista Siona Júnior