Estimado administrador do nosso município de Belize, que nos acolhe aqui na sua sede, saúdo assim o seu adjunto, a sua delegação do município, bem como o administrador comunal do loalho e todos os membros que compõem a sua equipa governativa. Meus irmãos no sacerdócio, minhas irmãs na vida consagrada e todos vós, catequistas amados desta nossa comunidade, que a nós nos juntás desta manhã para podermos juntos realizar o encerramento desta nossa segunda visita pastoral.
Saúdo, eu quero ver a cara do meu administrador, de lado, isso, está a começar, é normal, não se preocupe, exato, melhorou.
Então, dizia, e vós queridos irmãos e irmãs destas comunidades que constituem a nossa paróquia de Santo Antônio, a minha primeira palavra é de gratidão e de reconhecimento pelo trabalho que tem sido desenvolvido pelos nossos missionários e missionárias desta nossa comunidade, que no meio de imensas dificuldades tem levado a cabo a sua ação pastoral, visitando e animando todas as comunidades.
No que me toca, agradeço o acolhimento, sobretudo a hospitalidade que recebi em todos os locais que nós visitamos, sobretudo os da linha do Vier, de Kisan, Pângala e também os da linha do Massamo, não tendo chegado ao destino, ficamos a meio de dificuldades de transitabilidade. Agradeço a amável saudação do senhor administrador e sua esposa, que se adigaram a apresentar-se em casa onde estou hospedado, com sinais de amizade, de presença e também de solidariedade.
Obrigado por estes gestos e como homem de fé da Igreja, peço também ao senhor para que continue a guiar os seus passos e de todos aqueles que consigo administram este município, sobretudo nestes tempos difíceis em que é preciso discernimento e serenidade para poder ler os acontecimentos humanos e naturais à luz de Deus.
Esta visita pastoral ocorre num momento particularmente difícil, que nós vivemos a todos os níveis, dificuldades que parecem agravar-se cada dia, mas para as quais todos temos de procurar soluções. Ouvindo as populações que fomos visitar, elas queixam-se de quatro questões principais.
A primeira, a luta contra a natureza, tanto os elefantes cuja população parece estar em grande crescimento, os elefantes que estão a comer o que seria para a população, pois sabemos que onde matavisha um elefante, comeria uma família ou várias famílias durante todo o ano. E, portanto, a queixa geral do povo é a de que os elefantes estão a prejudicar a agricultura, estão a criar fome, estão a levar as pessoas a abandonarem as aldeias. Sabemos que por legislação das nações e a nossa não-extinção, existe a proteção das espécies para que elas não sejam dizimadas, mas chegamos a um ponto em que, do ponto de vista de opções, temos de escolher se matamos os elefantes ou alguns para diminuirmos a sua população e permitirmos que as pessoas tenham alimentos para sobreviver, ou então deixamos os elefantes crescerem e tomarem conta das nossas vilas.
Bom, acalmem as crianças, odeiem o reboçado, odeiem a azepar, qualquer coisa para a gente poder continuar.
Então, dizia, será preciso, do ponto de vista de opção governativa, escolher entre o deixar que os elefantes acabem com as nossas culturas e, em alguns casos, até matem pessoas, ou então permitir que o povo possa viver estável. Daí que uma das opções e sugestões que deixamos é de se encontrar um equilíbrio junto dos ministérios dos órgãos de tutela para que a população animal não se sobreponha ao habitat humano, pois nós todos precisamos das nossas aldeias para podermos garantir estabilidade e também soberania.
Estabilidade porque são essas aldeias que alimentam as cidades, são essas aldeias que permitem que tenhamos em mãos o setor primário que é, por enquanto, aquele que nós dominamos, o setor da agricultura. Quando um dia todas as populações abandonarem as aldeias para fugirem dos elefantes, começará a fome, aumentará drasticamente a criminalidade e o sonho da construção da nação estará sempre adiado.
Por esta razão, deixamos aqui este pedido que faremos chegar igualmente às autoridades provinciais e também aquelas nacionais, porque a luta ao longo da história humana tem sido sempre a de um homem procurar encontrar soluções para a realidade em que se encontra situada. E não devem ser os animais a nos dominar e nós descansarmos diante disso sob o signo da proteção da fauna. Basta uns poucos exemplares para ficarem de recordação às gerações vindouras.
Uma outra queixa muito presente nos encontros havidos tem a ver com as vias de acesso.
No dia 15 de setembro de 2023, em London, foi consignada a obra de construção da estrada do Ieman até ao Alto Sumi. Foi uma cerimônia solene em que todos nós participamos, na esperança de que no prazo de três anos, contados a partir daquela data, esta estrada estivesse pronta. O tempo ainda não terminou. Faltam mais de 13, 14 meses até setembro de 2026. Estamos a contar os meses.
Uma estrada destas, realizada com qualidade e com vigilância, será uma bênção para os povos destas terras que também precisam de ver, de viver e de sentir o desenvolvimento. Eu sinto no vosso rosto e na vossa realidade o sofrimento, vocês que administram nestes tempos, sobretudo neste modelo demasiadamente centralizado, onde aqueles que devem disponibilizar os meios nunca meteram aqui os pés e não têm o sofrimento político de enfrentar as populações com promessas muitas vezes adiadas. Eu conheço este sofrimento e sei que vocês carregam dentro do coração como vontade de fazer o bem, limitada pelos meios e opções que não estão nas vossas mãos.
Com efeito, este grito que lanço a partir deste lugar, não é feito por alguém que ouviu dizer que uma boa estrada é caminho aberto para o desenvolvimento, é caminho aberto para a poupança de recursos do Estado e dos indivíduos particulares. Sabês, vós que administrais e nós que percorremos estes caminhos, que um pneu, e no caso são quatro que o carro leva, que poderia durar um ano ou dois, nestas estradas em dois meses tem de mudar e você próprio tem de sacrificar-se ao morrer de fome para poder andar ou ficar parado para sobreviver, porque os gastos são tão excessivos que tornam impossível a resposta pontual às necessidades. A queixa dos povos é justamente a de que faltam estradas para o escoamento dos produtos do campo, que são a base da sua sobrevivência.
Por esta razão, se é verdade que as administrações não têm capacidade de resposta, porque não têm pelo contexto econômico em presença, com efeito há aqueles que exploram a riqueza deste povo, exploram o ouro, exploram a madeira, exploram outros recursos, que não devem nos deixar apenas como lembrança as florestas desertificadas ou os rios poluídos pela exploração do ouro, mas devem dar como resposta social a riqueza que daqui extrai, pelo menos máquinas para com regularidade se terraplanarem as estradas. Penso que não é uma exigência de outro mundo, é uma obrigação de quem explora.
Por isso, meus irmãos, exijam estas empresas esta resposta social, porque não é favor nenhum que prestam. Quem tira para ganhar deve deixar para beneficiar aqueles que ali moram e que, na verdade, são os donos da terra.
Uma terceira queixa constante é a da instabilidade. Precisamos de recuperar a coragem, espero nunca seja perdida, de trabalharmos incansavelmente pela paz real. Não podemos, digamos assim, andar silenciosos quando pessoas morrem e outras são desinstaladas dos seus lugares. Há necessidade de nunca perdermos a coragem da reconciliação, a coragem da construção da paz, mas uma paz que se alicença na justiça. Todos vós que andais por estes lugares incríveis conheceis as angústias destes povos e a nossa obrigação, como líderes, ajudar a devolver a esperança às pessoas, a fim de que todos possamos viver os benefícios da paz e as bênçãos da criação.
Meus irmãos e minhas irmãs, como igreja também precisamos de trabalhar e andar mais. As nossas capelas, sobretudo nos lugares onde passamos, manifestam a nossa limitação, mas envergonham-nos. Temos de redobrar os nossos esforços para que possamos também corresponder à expectativa do povo que nos está confiado.
É preciso trabalharmos pelo menos para termos chapas e agradecemos à nossa administração pela ajuda que não poucas vezes nos presta para podermos dar resposta às situações. Estamos a rezar nesta igreja só hoje, de maneira excepcional. Venham só aqui para passar pela Porta Santa, porque há um ato administrativo que nos proíbe de rezarmos aqui, temos de cumprir.
Enquanto não realizarmos as obrigações que nos tocam da regularização deste espaço, infelizmente, como monumento nacional, creio eu já classificado como tal, se torna então tarefa do Estado, o que facilita de sobremaneira a nossa missão. De qualquer maneira, temos a responsabilidade, todos, aqui com a ajuda de outros, de continuarmos a construir a nossa nova igreja. Já passa mais de um ano desde que as chapas foram levadas pelo vento.
E temos de dar graças a Deus, porque foi um sinal para nos lembrar em como devemos melhorar a qualidade da estrutura, porque se na primeira vez fomos avisados sem gente nem dentro, nem ao lado, como aconteceu também em Elanda, graças a Deus, sem nenhuma vítima. Na segunda, podemos não ter tanta certeza. Os avisos e os sinais são justamente para nos lembrarem que devemos fazer melhor.
Por outro lado, uma outra grande prioridade que julgamos fundamental para a nossa ação como igreja, mas também como administração, é vermos como se pode dar o melhor apoio aos professores e aos enfermeiros que trabalham nas zonas interiores. Encontramos comunidades onde você pergunta quem sabe ler no meio de cinquenta, cem pessoas e ninguém levantava o dedo. Perigoso.
É por isso que, como igreja, à semelhança do que faziam os antigos missionários, temos de priorizar essas crianças interiores para que sejam formadas e depois possam dar resposta aos mais variados desafios. Sem ler, nem escrever, a pessoa não consegue viver nada nos seus direitos. Por isso, sugiro também que se criem mais internatos, mesmo estaduais, que podem nos confiar a nós para podermos cuidar, para devolvermos a esperança a muitas dessas nossas crianças.
Mas é preciso fazermos de maneira consolidada para que, quando elas concluírem os níveis suficientes para poderem ensinar os outros, possam ser priorizadas nos concursos públicos que permitam o acesso, sobretudo ao Ministério da Educação e ao Ministério da Saúde. Vocês próprios que vivem cá sabem quanta mentira é dada aos alunos por profissões que nunca aparecem.
Não sei quem é o secretário municipal da Educação, não sei se sabe, se tem a estatística da carga letiva e da porcentagem daquilo que é ensinado às crianças, aos jovens e aos adultos, tanto no município, que é um bocadinho mais fácil, como também no interior. Não sei se chegamos, em alguns casos, a trinta por cento, porque o professor está sempre na estrada para chegar, não é? Chega tarde, quando chega está cansado, quando está cansado tem que voltar já porque não tem os meios disponíveis.
E creio que, se encontramos um modelo educativo, muitas crianças terão diplomas sem conteúdo, o que é porta aberta para a escravatura. Quando não se tem luzes, perde-se a capacidade de reivindicar e de procurar os seus próprios direitos.
Este não é um trabalho só do governo ou da administração, é trabalho de toda a sociedade. Nós, que somos adultos, passaremos. Eu, dentro de mais sessenta anos, vou morrer. Alguns de vocês, pouco menos, não é? Mais dez, mais vinte, quem sabe mais quarenta. Eu, mais sessenta. Podem ficar tranquilos. Basta contar dois cada ano.
E nós temos a obrigação de deixar o mundo melhor do que o encontramos. E se muito não podemos dar, pelo menos a educação daqueles que nos vão suceder, para que possam ajudar a defender o bem conquistado e abrir caminhos para novas conquistas em benefício de todos.
Terminamos, irmãos, com duas palavras.
A primeira, deste nosso caminho de igreja que estamos a viver neste ano jubilar de 2025 da encarnação do governo. O Papa Francisco, de grata memória, abriu o jubileu e a Porta Santa em Roma no dia de Natal. E nós, a nível das dioceses, abrimos no dia 29 e declaramos igrejas jubilares, algumas da nossa diocese, nomeadamente esta de Santa Antônia do Belize, de São Carlos Luanga, de Nossa Senhora de Fátima do Subantano, da Imaculada Conceição e da de São Tiago de Lândala, além, claro, desta antiga rua principal que é a Catedral.
Qual é o significado deste ano jubilar? É o da possibilidade da remissão geral de todos os pecados para aqueles que fizerem a confissão individual, participarem da Eucaristia, fizerem obras de caridade e passarem pela Porta Santa. É uma grande oportunidade para a renovação do nosso batismo.
Diz Jesus, quem me ama guardará minha palavra e meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Mas lembra-nos também, quem me não ama não guarda minha palavra, mas lembra Jesus que a palavra que eu vi não é minha, mas do Pai que me enviou.
Todos estes momentos que a Igreja nos oferece são justamente para tomarmos consciência da nossa condição de pecadores, mas também da grande possibilidade que a Graça de Deus nos dá para podermos estar sempre no caminho que nos conduz à salvação.
Quando nós avançamos a fé, não é para ser guardada em nossa casa, é para que ela produza frutos. E o maior fruto da fé é o amor, e o maior fruto do amor é o perdão. Quem não sabe perdoar não sabe amar, e quem não sabe amar não sabe perdoar.
Daí que a grande escola da fé no testamento final de Jesus, não só na manhã de Páscoa a paz esteja convosco, mas também no apelo que faz de tornar os cristãos ministros da reconciliação, encontramos aí o fundamento para podermos entender e viver o Ano Santo como oportunidade da Graça Divina para podermos renovar a riqueza inesgotável do nosso batismo.
Este Ano Santo é para pedirmos perdão àqueles que nós fizemos mal. Este Ano Santo é também para podermos perdoar as dívidas daqueles que nos devem. A nível da diocese, as paróquias deviam milhões, perdoe-los pelo Ano Santo para recomeçar. Mas os que fiarem de novo vão pagar com os juros, porque vão querer que venha no próximo Ano Santo, que não está para breve, brincando.
Seja como for, perdoar as dívidas dos outros. O Ano Santo é para recomeçarmos a vida com os outros. Aqueles que têm muitos inimigos, é o momento de dar o primeiro passo, porque a identidade do cristão não se manifesta quando ela ama apenas aqueles amigos.
Diz Jesus, se amais apenas aqueles que vos amam, o que fazes de extraordinário? Nada, não é? Não fazem também os pagãos? Se convidais apenas aqueles que vos convidam, o que fazes de extraordinário? Jesus dá-nos uma responsabilidade mais profunda do amor. Qual é? Amai os vossos inimigos. Orai por aqueles que vos perseguem, fazei bem àqueles que vos fazem mal, para seres filhos do vosso Pai Celeste.
Não há anúncio mais claro do que este. Amai os vossos inimigos. E não é fácil. Aqueles que nos traem, que fazem da íntegra sua arma de sobrevivência, que não são leais, mesmo sendo companheiros.
E nisto precisamos de vigiar todos, na igreja, nas administrações, nos governos, nos palácios, cada íntegra que passa lá por dentro, onde a pessoa não sabe se vai gastar energias para se defender, ou se vai usá-las para desenvolver o seu povo. Orai por aqueles que vos perseguem, fazei bem àqueles que vos fazem mal, e o caminho divino para a paz e para a reconciliação.
Quando assim não acontece, é porque não entendemos as razões da nossa esperança. Há muita gente que perdeu lares, que perdeu oportunidades, por não saber viver e não saber perdoar. Quantas vezes você, como mulher, voltou a casa por causa de um conflito e disse: eu não admito isso, vou-me embora para a minha mãe, ou para a minha família. Vai. Quando podia ter perdoado, recomeçado, ou reconstruído aquilo que parecia estar a ser destruído.
Amar os vossos inimigos. Mas é também ter consciência do valor do inimigo. Nem todos os inimigos são maus. Aliás, o inimigo pode ser uma bênção que nós precisamos para podermos estar mais vigilantes. Ou o adversário.