Quinta-feira, Dezembro 4, 2025

CRÔNICA: SE O CAMARADA HIGINO CARNEIRO FOR CONVIDADO A SER O CABEÇA DE LISTA DA CASA-CE, O QUE SERÁ DO MPLA?

O peso das sombras no tabuleiro político

Por: apostolado
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Se o camarada Higino Carneiro for convidado a ser o cabeça de lista da CASA-CE, o que será do MPLA? A pergunta ecoaria pelos corredores políticos de Luanda como um assobio inesperado em plena noite silenciosa. Afinal, não se fala de um militante qualquer: trata-se de um general angolano cuja biografia recente vem acompanhada de um ruidoso arrastar de processos, acusações e manchetes pouco simpáticas.

 

A Procuradoria-Geral da República de Angola anunciou que Higino Carneiro foi constituído arguido e está indiciado pelos crimes de peculato e burla qualificada — acusações pesadas que remontam ao período em que governou o Cuando Cubango e, posteriormente, a província de Luanda. Entre as irregularidades apontadas, destaca-se a alegada utilização de fundos públicos para fins particulares, inscrita no processo 46/19, relativo ao seu mandato no Cuando Cubango.

 

Ora, num país onde as fronteiras entre política e reputação sempre foram maleáveis, imaginar Carneiro como cabeça de lista de uma coligação como a CASA-CE é acender uma fogueira no centro da praça. Não só porque seria visto como um resgate improvável de uma figura envolta em controvérsias, mas porque lançaria uma sombra longa sobre o MPLA, partido onde construiu a sua carreira e onde, por muito tempo, foi figura de peso.

 

Seria uma deserção estratégica? Um ajuste de contas? Ou simplesmente mais um episódio do teatro político angolano, onde as peças mudam de palco sem que o público entenda bem o enredo?

 

O MPLA, que tem procurado polir a imagem perante a luta anticorrupção, certamente não veria com bons olhos a possível migração de um dos seus nomes mais comentados — e não pelos melhores motivos — para uma força concorrente. E a CASA-CE, por sua vez, arriscaria transformar um ato de renovação política num abraço a um fantasma que ainda nem findou os seus acertos com a justiça.

 

No fim, a pergunta permanece: se Higino Carneiro for mesmo convidado a encabeçar a CASA-CE, o que será do MPLA? Talvez nada. Talvez muito. Talvez apenas mais uma prova de que, na política angolana, as peças do xadrez mudam, mas o jogo continua o mesmo — ora dramático, ora enigmático, sempre surpreendente.

Jornalista Siona Júnior

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