A homenagem da Universidade Católica aos antigos estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, entre os quais ao Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, a título póstumo, é, para a Igreja e todo o povo angolano, merecida, fruto da sua competência, grandeza e humildade, destacou, ontem, o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé CEAST.
Em declarações ao Jornal de Angola, D. Belmiro Chissengueti referiu que era o desejo de todos que um dos filhos mais ilustres de Angola recebesse pessoalmente tamanha homenagem estando em vida, mas isso não foi possível, justificando que os caminhos de Deus não são os dos homens.
“ Neste ano, em que celebramos o centenário do nascimento de Sua Eminência Alexandre Cardeal do Nascimento, é para nós, como Igreja Católica, e para todo o Povo angolano uma homenagem merecida para um dos seus filhos mais ilustres. Era nosso desejo que ele recebesse pessoalmente tamanha homenagem estando em vida, mas os caminhos de Deus não são os nossos. A nossa renovada gratidão à Universidade de Lisboa, onde ele fez a sua formação jurídica”, sublinhou D. Chissengueti.
Doutor Honoris Causa
O também bispo da Diocese de Cabinda explicou que o Cardeal Nascimento fez a sua Licenciatura em Teologia na prestigiada Universidade Gregoriana de Roma, mas quando lhe foi imposto o regime de residência vigiada, em Portugal, por causa das suas posições anti-coloniais, aproveitou o ensejo para estudar Direito Civil.
A formação, contou, foi feita pela Universidade de Lisboa, entre 1965 e 1970, e na mesma instituição académica recebeu no ano 2000 o título de Doutor Honoris Causa.
O porta-voz da CEAST referiu que a folha da dimensão intelectual do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento conta, igualmente, com outro título de Doutor Honoris Causa atribuído pela Universidade Católica de Angola.
“Estes títulos e homenagens são concedidos em função da grandeza, da com- petência e da humildade deste ilustre filho de Angola”, destacou D. Belmiro Chissengueti.
Exemplo para a juventude
Dom Alexandre do Nascimento foi um defensor da liberdade, independência, dignidade da pessoa humana e de uma sociedade pluralista, afirmou, para ressaltar que estes importantes ideais, nascidos e amadurecidos pela sua fé, nem sempre foram compreendidos pelas autoridades dominantes, razão pela qual foi deportado para Portugal e lhe foi imposta a pena de residência vigiada.
Mas mesmo assim, segundo D. Belmiro Chissengeti, Dom Alexandre do Nascimento não se calou, continuou a lutar pelos seus ideais até à Independência de Angola, alcançada a 11 de Novembro de 1975.
Depois da Independência, Dom Alexandre continuou a luta pela dignificação dos angolanos até à sua morte, disse o bispo de Cabinda, ressaltando que a mensagem do Cardeal para os jovens foi sempre de nunca se conformarem com a mediocridade e lutarem, sempre, por um país melhor.
- Alexandre Cardeal do Nascimento foi a Lisboa deportado pelo regime de Oliveira Salazar e foi aluno de Marcelo Caetano, explicou D. Chissengueti, referindo que nesta condição os mais fracos se teriam resignado, mas ele aproveitou para ampliar a sua formação e a sua mundividência, que acabaram por ser muito importantes no seu caminho humano e de fé.
“Um sinal significativo a uma personalidade de grande relevância”
As homenagens são sempre um sinal significativo de reconhecimento que uma instituição faz a uma personalidade que tenha relevância, considerou, ontem, o jurista Domingos das Neves.
No caso específico, o reconhecimento que a Universidade de Lisboa faz, a título póstumo, à pessoa do Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, quer demonstrar a atenção que mereceu enquanto antigo aluno daquela instituição de ensino superior da capital portuguesa, referiu.
Domingos das Neves salientou que se sabe que antes da Independência de Angola, em 1975, alguns sacerdotes autóctones, por causa das suas intervenções, que eram incómodas para o regime colonial, foram deportados para Portugal.
Nessas circunstâncias, disse que o então padre Alexandre do Nascimento se inscreveu e frequentou a Universidade de Lisboa como aluno da Faculdade de Direito, que concluiu o currículo de estudos.
Para o jurista, que também é cristão católico, quem conheceu o Cardeal Alexandre do Nascimento ou tomou contacto com ele por meio dos seus escritos, a primeira imagem que vem é a de um eclesiástico culto, com uma preparação refinada, quer na literatura dos clássicos gregos e latinos, como também de um homem com uma ampla e profunda reflexão filosófica e teológica.
“Não poucas vezes o ouvimos, nas suas homilias, citar o seu São Tomás de Aquino ou o Padre António Vieira, um dos grandes pregadores portugueses. O Cardeal amou a poesia e escreveu inúmeros poemas com uma densa profundidade espiritual. Portanto, para mim, a motivação para a atribuição deste reconhecimento tem toda a razão de ser, ainda mais num ano em que estamos a celebrar o centenário do seu nascimento e o meio século da nossa Independência Nacional. Que feliz coincidência!”, destacou.
Os jovens, sublinhou, podem extrair da personalidade do Cardeal Nascimento, dentre outras qualidades de que foi dotado, o seu amor pelos estudos e pelos escritos, gosto pelas coisas simples, mas profundas, a capacidade de reflectir, sem pressa, para colher o real significado do sinal dos tempos, assim como o amor incondicional por Jesus Cristo e Sua Mãe Maria Santíssima.
“O Cardeal era uma personalidade dotada de uma vasta e imensurável cultura, um ser que se absorvia profundamente na oração e na contemplação”, considerou Domingos das Neves,
Dom Alexandre do Nascimento, disse, era um profundo conhecedor da sociedade portuguesa e isso, também, se deveu graças ao período de estudos que fez em Lisboa, antes da Independência de Angola.
Fonte: JA