
As lágrimas de Ana Dias Lourenço, derramadas recentemente durante a conferência sobre violência contra a criança, não foram um gesto vazio. Foram um grito. Um apelo dramático que ecoou no país inteiro. A Primeira-Dama, emocionada, perguntou publicamente por que os responsáveis por abusos sexuais contra menores não são detidos, exigindo às autoridades que cumpram o seu papel e ponham fim à impunidade que insiste em corroer a infância de milhares de pequenos angolanos.
Mas, olhando para a realidade, fica a pergunta que arde: alguém na Justiça ouviu? Alguém se sentiu interpelado? Ou as lágrimas caíram no chão frio da indiferença institucional?
Uma Justiça que tarda… e falha
O país assiste, quase semanalmente, a denúncias de abuso sexual infantil. O caso recente envolvendo o ator Cesalty, acusado de violar a filha de criação e posteriormente colocado em liberdade, chocou muitos angolanos que viram no desfecho do processo mais um sinal de inoperância do sistema judicial.
Ninguém está aqui a condenar sem julgamento — mas a pergunta que a Primeira-Dama fez continua válida:
Por que razão acusados de crimes tão graves circulam livremente enquanto investigações se arrastam sem explicações convincentes?
Quando a criança fala… e o Estado silencia
E não é só o caso Cesalty. Situações ainda mais brutais acontecem longe dos holofotes.
Segundo relatos recentes, uma mãe viu a filha de apenas 2 anos ser violentada por um indivíduo de 24 anos, já identificado. Os exames médicos confirmaram o abuso. Há sinais físicos. Há denúncia formal. Há número de processo: 3812/25. Há instrutor responsável: Adriano Gaspar (conforme relato da denunciante).
E, mesmo assim — o acusado, identificado como Manuel José Eduardo, continua solto.
A quem se pede socorro quando até uma criança de dois anos não desperta a urgência mínima das autoridades?
Que Justiça é essa que exige provas, testemunhos, laudos, tudo entregue… e ainda assim age como se a agressão fosse um detalhe burocrático?
A impunidade como cúmplice
A polícia que “desdenha”. Agentes que tratam mães desesperadas como se fossem inconvenientes. Processos que se arrastam como se não estivessem a lidar com traumas irreversíveis.
É duro, mas é preciso dizer: quando um acusado de abuso infantil permanece solto apesar de haver fortes indícios, a impunidade torna-se cúmplice.
Não basta a Primeira-Dama chorar.
Não basta apelar.
Não basta perguntar por que não são detidos.
É preciso que a Justiça responda. É preciso que a Justiça aja.
A infância angolana não pode esperar
Cada dia que um agressor permanece em liberdade é um dia de terror potencial para outra criança. É um recado claro para os violadores: “não se preocupem, nada lhes acontecerá”.
E é também um recado cruel para as vítimas: “você não importa”.
Enquanto isso, a sociedade, indignada mas impotente, assiste.
E a pergunta que ecoa, mais forte que as lágrimas, é:
Até quando?
Até quando a infância angolana será sacrificada na mesa da lentidão judicial?
Até quando mães, como a desta menina de dois anos, terão de implorar por aquilo que deveria ser automático: proteção e justiça?
Click para recordar a primeira Dama da República:
https://www.youtube.com/watch?v=1bhQ3rFsUkE
jornalista Siona Júnior