
Nos últimos dias, muito se tem falado sobre a recente aparição pública da cantora Yola Semedo, na qual se notou uma acentuada perda de peso. O que poderia ter sido apenas mais um momento artístico transformou-se rapidamente num fenómeno de especulação, críticas duras e comentários cruéis. De repente, surgiram insultos gratuitos, teorias sem fundamento e um ambiente de julgamento que nada acrescenta — nem à artista, nem a nós como sociedade.
É importante lembrarmos que, por trás da figura pública, existe uma mulher real.
Uma mulher com vida, emoções, medos, limitações e, possivelmente, batalhas invisíveis. Nunca sabemos o que alguém está a atravessar. Talvez Yola Semedo esteja a viver problemas familiares, desafios emocionais, ou mesmo a enfrentar uma enfermidade. E, se assim for, a última coisa que precisa é de um coro de vozes negativas a amplificar a sua dor.
O que estamos a fazer, ao comentar com leviandade sobre a aparência de alguém, é minar o seu bem-estar emocional e destruir a sua autoestima. E trata-se de uma artista que durante décadas nos ofereceu música, arte e momentos inesquecíveis alguém que merecia, no mínimo, respeito e compreensão.
Vivemos tempos em que a empatia parece ser cada vez mais rara.
Esquecemo-nos de que as palavras têm impacto, e que a exposição pública não anula a vulnerabilidade humana. Hoje é Yola Semedo; amanhã pode ser qualquer outra pessoa alguém próximo, um amigo, um familiar, ou até nós próprios.
Em vez de nos juntarmos à onda de boatos e julgamentos, deveríamos olhar para esta situação como um apelo à humanidade. Precisamos de aprender a ser mais cuidadosos com o que dizemos, mais generosos no modo como reagimos e mais atentos às dores que não vemos.
Paulo Matias | jornalista da RNA