
Nas últimas semanas, o cenário político angolano foi marcado por um movimento incomum: mais de 60 militantes da UNITA anunciaram a sua deserção, abraçando o MPLA ou integrando-se no Partido PRA-JÁ Servir Angola. A saída consecutiva de quadros — alguns deles considerados influentes dentro do chamado “galo negro” — levantou dúvidas na sociedade civil e reacendeu o debate sobre a solidez interna dos partidos, a liberdade de escolha dos seus membros e o conhecimento efetivo que estes detêm sobre os estatutos que regem a sua militância.
Um fenómeno em expansão
Fontes locais e relatos de dirigentes comunitários indicam que a tendência começou de forma isolada, mas ganhou intensidade nos últimos meses. Entre os que abandonaram a UNITA encontram-se jovens ativistas, antigos responsáveis de comissões de bairro e até quadros séniores com histórico de participação interna.
A adesão ao MPLA ocorreu sobretudo em zonas urbanas, motivada — segundo os próprios militantes — pela procura de “melhores oportunidades de participação política”. Já o PRA-JÁ Servir Angola, apesar depois de vencer obstáculos legais ao seu reconhecimento formal, tem conseguido arrastar quadros considerados estratégicos, o que surpreendeu analistas e gerou apreensão entre membros da sociedade civil que acompanham de perto o ambiente partidário.
Liberdade política ou erosão interna?
A pergunta que se impõe — e que alimenta debates académicos e comunitários — é se estas movimentações representam um exercício legítimo de liberdade política ou se revelam fragilidades internas da UNITA, nomeadamente o alegado desconhecimento do estatuto do partido e das obrigações a que os militantes estão sujeitos.
Especialistas contactados por organizações independentes lembram que a rotatividade de quadros é natural em democracias multipartidárias. No entanto, quando o fenómeno se torna expressivo em curto espaço de tempo, levanta questões sobre disciplina interna, mecanismos de retenção de militantes e transparência nos processos de gestão partidária.
Sociedade civil alerta para riscos
A sociedade civil tem mostrado preocupação com a velocidade das mudanças e o impacto que podem ter na estabilidade das estruturas partidárias. Para muitos, a migração de quadros deveria ser acompanhada de esclarecimentos públicos que permitam compreender se se trata de divergências ideológicas, conflitos internos ou simplesmente reconfigurações naturais do campo político.
Organizações cívicas apelam ainda para que todos os partidos reforcem ações de formação sobre os seus estatutos, de modo a evitar que militantes atuem sem plena compreensão dos seus direitos e deveres — um fator que, segundo alguns especialistas, contribui para decisões precipitadas e para a perceção de fragilidade institucional.
Um processo ainda em evolução
Por agora, permanece a incerteza quanto aos impactos futuros deste movimento. A UNITA promete reestruturar bases e fortificar a formação política dos seus membros. O MPLA e o PRA-JÁ Servir Angola, por sua vez, reforçam o discurso de que as adesões refletem maturidade democrática e liberdade de escolha.
Enquanto isso, a sociedade civil mantém os olhos atentos, questionando se estamos diante de um sinal de pluralismo político vigoroso ou de um indício de erosão interna nas estruturas partidárias tradicionais.
RESUMO DA NOTÍCIA COM ACONTECIMENTOS RECENTE NA PROVÍNCIA DO CUANZA NORTE, SEGUNDO A RÁDIO ECCLESIA N’DALATANDO
O MPLA no Kwanza Norte anunciou que 60 militantes da UNITA aderiram ao partido, facto revelado pelo primeiro secretário provincial, João Diogo Gaspar, durante as comemorações dos 69 anos de existência do MPLA no Largo das Escolas, em Ndalatando. O dirigente elogiou a “coragem” dos novos membros e afirmou que a sua entrada representa um contributo para a construção de um país melhor.
Em reação, o secretário provincial da UNITA, Francisco Falua, desvalorizou o anúncio, considerando-o uma “manobra de distração” destinada a desviar a atenção do recente congresso do seu partido. Falua comparou esta situação a eventos semelhantes ocorridos antes das eleições de 2022, dizendo que apenas mudou o “ator principal”.
Jornalista Siona Júnior & Adão dos Santos