Um levantamento interno obtido com exclusividade por esta reportagem do Jornal Apostolado, revela que cerca de 80% dos delegados com direito a voto no próximo congresso da UNITA apoiam a continuidade de Adalberto da Costa Júnior à frente do partido. A pesquisa, realizada discretamente nas semanas que antecedem o conclave, sugere que o atual líder conta com uma base sólida — mas não inabalável — de apoio.
Apesar da maioria expressiva, a unidade no seio do maior partido da oposição em Angola está longe de ser total. Diversas fontes ouvidas sob condição de anonimato relatam movimentações internas que visam não apenas testar a força de Adalberto, mas também preparar o terreno para uma possível sucessão caso o seu projeto político sofra desgaste nas eleições de 2027.
A sondagem silenciosa
O levantamento, conduzido por membros da comissão preparatória do congresso, incluiu conversas informais, entrevistas e até votos simulados entre os 1.200 delegados esperados para o evento, previsto para o primeiro trimestre de 2026. Os resultados, ainda não divulgados oficialmente, indicam que cerca de 960 delegados estariam inclinados a reconduzir Adalberto da Costa Júnior.
“Ele tem o apoio da base, especialmente da juventude e das estruturas provinciais. Mas há núcleos em Luanda e Benguela que estão a articular alternativas”, afirmou um membro veterano do Comité Permanente.
Levantamento interno revela ampla maioria a favor da manutenção do líder, mas tensão interna e interesses de bastidores ameaçam consenso na UNITA.
Os adversários silenciosos
Entre os que resistem à continuidade de Adalberto estão figuras do antigo núcleo dirigente, ainda inconformadas com a mudança de linha ideológica que o presidente introduziu desde 2019. A aproximação estratégica à sociedade civil, o discurso frontal contra o MPLA e a tentativa de modernização interna dividiram opiniões.
Um ex-deputado da UNITA, afastado das estruturas centrais após a última convenção, alerta: “Há um grupo que considera que Adalberto levou o partido a uma linha de confronto permanente, que pode ser perigosa. Defendem um estilo mais negociador.”
Esses setores estariam a articular a candidatura de um nome alternativo — ainda não tornado público — capaz de reunir o apoio dos mais moderados e dos nostálgicos da era Savimbi.
A resposta de Adalberto
Procurado pela reportagem, Adalberto da Costa Júnior não quis comentar os números do levantamento, mas reiterou que está “focado em garantir a coesão interna e a preparação do partido para os desafios eleitorais que se aproximam.”
“Se a vontade dos militantes for de continuidade, estarei disponível. Mas o mais importante é que a UNITA continue a ser o principal instrumento de transformação democrática de Angola”, disse.
Pressões externas e internas
Analistas políticos ouvidos pela reportagem apontam que a forte pressão do regime, o controlo dos meios de comunicação estatais e a judicialização da política — como se viu nas disputas anteriores — são fatores que também pesam nas decisões internas do partido.
“Adalberto tem carisma, apelo popular e forte presença mediática. Mas enfrenta um sistema que não joga limpo. Isso leva parte da UNITA a querer um líder mais pragmático, menos polarizador”, afirma a cientista política Emília Ndongala.
O futuro do partido
O congresso de 2026 será, segundo diversos observadores, o mais importante desde a morte de Jonas Savimbi. Além da escolha da liderança, estará em jogo a estratégia da UNITA para tentar, pela terceira vez consecutiva, conquistar o poder nas urnas.
Se Adalberto da Costa Júnior for reconduzido, terá o desafio de unificar o partido e renovar o discurso político. Se for derrotado, a UNITA entrará numa nova fase — cujo rumo ainda é imprevisível.
Jornalista Siona Júnior