
Um escândalo sem precedentes volta a expor o colapso moral e institucional do sistema de saúde angolano.
O cidadão Arnaldo Lapa Armando José, de 40 anos, entrou no Hospital do Prenda, em Luanda, no dia 15 de janeiro de 2024, para tratar um simples abscesso na região inguinal do abdómen.
O que seria um procedimento rotineiro transformou-se num pesadelo de erro médico, falsificações, cirurgias desastrosas e ameaças de morte.
Durante o internamento, por volta das 20h42, duas enfermeiras trocaram acidentalmente o sistema de soro, conectando a Arnaldo um soro contaminado com sangue de outro paciente portador do vírus VIH/SIDA.
O incidente ocorreu na sala 210, cama número 3.
Pouco tempo depois, o paciente foi transferido para outra sala — mas o dano já estava feito.
Três meses após o episódio, os exames confirmaram o pior: Arnaldo havia sido infectado com VIH devido à negligência hospitalar.
Com o resultado em mãos, o diretor do hospital, Dr. Tomás Cassinda, convocou uma reunião de emergência, prometendo “apoio médico e jurídico” em nome da instituição e do Ministério da Saúde.
Apresentou o advogado Paulo Joaquim Salvador Lima, alegando possuir contactos diretos com a ministra.
No entanto, documentos obtidos pelo Jornal O Crime revelam que o advogado falsificou uma procuração, manipulando o processo para proteger a direção do hospital.

Participaram ainda da reunião: Dr. Boaventura, Dra. Maria Castro, enfermeira Brígida, enfermeiro-chefe Milton, e outros membros da direção — todos cientes da gravidade do caso.
Em 22 de abril de 2024, Arnaldo foi submetido a uma cirurgia interna, conduzida pelos médicos Boaventura, Roberto (de nacionalidade cubana), Nsimba e Euflásia Bumba.
A operação foi mal sucedida, resultando em danos irreversíveis: remoção do umbigo, destruição de tecidos subcutâneos e lesão intestinal.
Para ocultar o erro, a direção do hospital falsificou documentos, alterando datas de internamento e alta, e declarando “melhora clínica” quando o paciente estava em estado crítico.
Após o escândalo, a médica Euflásia Bumba desapareceu misteriosamente.
Poucos dias depois, na noite de 25 de abril, por volta das 21h40, Arnaldo foi retirado às escondidas do hospital num táxi da empresa Yango, sob ordens diretas do Dr. Tomás Cassinda e executadas pelo enfermeiro Martinho Ngunga — que, segundo um áudio obtido, confessou ser esta uma prática recorrente.
Desde então, Arnaldo vive escondido, temendo pela própria vida.
Fontes próximas afirmam que um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC), identificado como João Dias, teria sido contratado para silenciá-lo.
As investigações apontam ainda para o envolvimento do Diretor da Inspeção Geral das Atividades Sanitárias e Farmacêuticas, José Solino Joel, parente direto do diretor do Prenda.
Em conjunto, teriam bloqueado a resposta à carta-denúncia enviada por Arnaldo ao Gabinete da Ministra da Saúde.
Fragilizado e sem recursos, Arnaldo buscou ajuda em diversas entidades — OMA, Ordem dos Médicos de Angola, Grupo Parlamentar do MPLA e até à vice-presidente Mara Quiosa.
Nenhuma resposta.
O Ministério da Saúde e a direção do Hospital do Prenda permanecem em silêncio, apesar das provas documentais apresentadas.
Este caso vai muito além de um erro médico.
É um crime de negligência, corrupção e impunidade institucional.
Um retrato cruel de um sistema onde a vida humana perdeu o valor e onde quem denuncia é silenciado.
Enquanto Arnaldo Lapa luta para sobreviver e buscar justiça, os responsáveis continuam livres, e o Hospital do Prenda segue operando normalmente — como se nada tivesse acontecido.
Fonte: Jornal O Crime