Se Massanga Savimbi ganhar as eleições internas na UNITA, o partido pode entrar numa nova fase de afirmação ou mergulhar num ciclo de incertezas e disputas internas. Esta possibilidade, antes remota, hoje já se discute nos bastidores do Galo Negro como cenário viável — e até provável. Mas o que significaria, na prática, a ascensão de um herdeiro direto do fundador histórico da UNITA ao cargo de presidente do partido?
Massanga Savimbi é filho de Jonas Savimbi, o controverso líder guerrilheiro que marcou profundamente a história contemporânea de Angola. A simples menção ao seu nome ainda provoca reações polarizadas no seio da sociedade angolana. Para os simpatizantes da UNITA mais nostálgicos, ele representa a continuidade simbólica de uma luta inconclusa. Para outros, principalmente os jovens militantes, ele ainda é uma figura pouco testada, sem historial político consistente nem visão clara para os grandes desafios da oposição moderna.
No entanto, a sua eventual eleição poderá significar o retorno de um discurso mais identitário dentro do partido. Um discurso centrado na restauração da imagem e do legado do pai, mas também na recuperação de uma base tradicionalista que sente ter perdido espaço durante a presidência de Adalberto Costa Júnior. Isso pode reforçar a ligação emocional de alguns militantes com o partido, mas pode também alienar sectores urbanos e progressistas que esperam uma UNITA voltada para o futuro — não para o passado.
A questão central é: Massanga tem conteúdo político próprio ou viverá da sombra de Jonas? Porque a política actual exige mais do que apelo histórico. Exige capacidade de articulação nacional, visão económica, domínio das dinâmicas internacionais e uma leitura fina da juventude — hoje, o maior bloco eleitoral do país.
Além disso, a sua eleição poderá ser interpretada, pelo MPLA, como uma oportunidade de enfraquecer a narrativa reformista que vinha ganhando corpo dentro da oposição. Um Savimbi na liderança pode facilitar ataques políticos baseados na memória da guerra, mesmo que essa associação seja injusta ou manipulada. A UNITA, nesse caso, arrisca-se a recuar na imagem de partido democrático e moderno que vinha tentando construir desde 2019.
Por outro lado, não se pode ignorar que Massanga Savimbi tem carisma e, para muitos militantes das províncias, representa a possibilidade de “recuperar a alma” do partido. Num tempo em que muitos angolanos se sentem órfãos de referências políticas autênticas, o seu nome pode reacender paixões adormecidas — mas também divisões internas.
Se vencer, Massanga terá um desafio imediato: provar que não é apenas “o filho de Savimbi”, mas um líder com ideias próprias, preparado para dialogar com uma Angola pós-guerra, desigual e profundamente jovem. Para isso, terá de ser mais do que um símbolo. Terá de ser uma proposta.
E se não o for, a UNITA poderá pagar caro por uma escolha feita mais pelo coração do que pela razão.
Jornalista Siona Júnior