O conhecido líder religioso e presidente da Fundação Vida Plena, Reverendo Antunes Huambo, está oficialmente acusado pelo Ministério Público de envolvimento em um esquema de corrupção e desvio de fundos públicos estimado em mais de 100 milhões de kwanzas. A notificação para abertura do processo-crime já foi entregue ao Tribunal Provincial de Luanda, que poderá, nos próximos dias, marcar a primeira sessão de julgamento.
De acordo com documentos a que a Rádio Casimiro teve acesso, o reverendo é suspeito de ter utilizado uma rede de organizações não-governamentais e instituições religiosas para beneficiar-se de contratos financiados pelo Estado, através do Fundo de Apoio Social (FAS), entre 2021 e 2023. Os valores, destinados a projectos comunitários e campanhas de apoio alimentar em zonas vulneráveis, nunca chegaram aos beneficiários finais.
Fontes próximas ao processo afirmam que a investigação decorre há mais de oito meses sob sigilo, tendo sido desencadeada após uma denúncia anónima encaminhada à Procuradoria-Geral da República (PGR), acompanhada de documentos e extratos bancários. Parte dos fundos desviados teriam sido transferidos para contas pessoais do reverendo e de familiares diretos, em bancos comerciais nacionais e estrangeiros.
“O nome do Reverendo Antunes Huambo aparece como principal beneficiário de um esquema de triangulação de fundos com o envolvimento de empresas fictícias e fundações controladas por ele próprio. O valor desviado pode, inclusive, ultrapassar os 100 milhões, segundo estimativas preliminares”, explicou a Rádio Casimiro uma fonte ligada à Direcção Nacional de Prevenção e Combate à Corrupção, sob anonimato.
O escândalo abala a imagem de Antunes Huambo, conhecido não só pelos seus sermões televisivos, mas também pelo seu envolvimento em campanhas de moralização da sociedade e conselhos ao executivo sobre ética cristã. A Fundação Vida Plena, que lidera há mais de uma década, é uma das instituições religiosas com maior visibilidade mediática e influência política no país.
Tentativas de contacto com o reverendo e a sua assessoria foram infrutíferas até ao fecho desta edição. Entretanto, um comunicado publicado nas redes sociais da Fundação Vida Plena classifica as acusações como “caluniosas” e alega que se trata de uma “campanha de perseguição contra a igreja verdadeira e os seus líderes”. O documento garante ainda que Antunes Huambo está “disponível para cooperar com a justiça”.
O caso pode abrir um novo capítulo no combate à corrupção em Angola, particularmente envolvendo figuras do meio religioso, tradicionalmente vistas como inatingíveis. A sociedade civil e alguns líderes religiosos pedem uma investigação transparente e julgamento exemplar, caso se confirmem os crimes.
“É necessário separar a fé da impunidade. Ninguém está acima da lei, seja político, general ou pastor. Se há provas, que se faça justiça”, afirmou ao Jornal Investigativo o jurista e ativista cívico Edson Muanda.
A acusação inclui crimes de peculato, abuso de confiança, associação criminosa e branqueamento de capitais, e, se condenado, o reverendo pode enfrentar penas que variam entre 8 a 12 anos de prisão. Em actualização
Repórter Siona Júnior