No primeiro dia da greve, escrevi “Vox populi vox Dei”, uma expressão latina que em português significa “a voz do povo é a voz de Deus”, colocando Deus e o povo no centro de tudo.
Olhando para a aceleração dos acontecimentos e todas as suas consequências, com destaque para a inaceitável perda de vidas humanas, venho antes de qualquer consideração manifestar a minha total solidariedade à todas as famílias angolanas feridas que se encontram espalhadas nos diferentes hospitais do país e aos que perderam os seus parentes, como o caso do menino da Caop que assistiu a sua mãe ser baleada até a morte por agentes da Polícia Nacional.
“Mamã….. acorda! Ehhhh… Minha mãe…!”, esses gritos do menino da Caop ecoarão para sempre nos ouvidos de todos.
Manifesto igualmente a minha solidariedade a todos que perderam os seus bens durante a manifestação espontânea do povo.
Entendemos todos que a mensagem da ANATA foi sobre a paralisação do serviço de táxi em Luanda, para promover uma negociação com o Executivo sobre a subida do preço do combustível e forçar as pessoas a ficarem em casa.
O que observamos foi para além do esperado, pois assistimos o povo, que depende fundamentalmente da venda informal, a sair às ruas para deixar vários recados da sua fúria: “a fome não é relativa”, “queremos ser valorizados”, “somos os patrões dos dirigentes”, “o desemprego é gritante”, “a paz não pode ser apenas para alguns”, “o povo é o patrão”, “eles não são os únicos que lutaram” e tantas outros que exprimem a galopante frustração de milhões de angolanos.
Tudo isso revela que os angolanos estão cansados de serem governados da mesma maneira e pelas mesmas pessoas ao longo dos últimos 49 anos, e com políticas e medidas económicas que vão se revelando desastrosas e ineficazes.
O meu apelo nesta hora vai mais uma vez no sentido de se criarem condições para o Executivo assimilar, acomodar e valorizar a voz de todas as forças vivas do País, evitando decisões precipitadas que possam comprometer os destinos do nosso povo, que espera por medidas e soluções imediatas para reduzir o impacto negativo da fome e do desemprego.
Como dizia o Presidente Houphouët Boigny “o diálogo é a arma dos fortes”. O diálogo não diminui ninguém. Pelo contrário, fortalece!
E este diálogo de que falamos não seja um mero exercício de retórica ou de aproveitamentos, mas que sirva de base para a execução célere de um “Plano de Emergência Nacional”, para a mitigação das necessidades básicas das populações. Esse plano deve priorizar os seguintes desafios:
- Alimentação;
- Água potável;
- Saúde acessível;
- Emprego;
- Transportes Públicos;
- Reavaliação do preço do combustível.
Houphouët Boigny ainda dizia que “um ventre com fome já não tem ouvidos” e acrescentava que “um homem esfomeado, não é um homem livre”.
O caminho necessário não é o de confronto, mas sim de compromisso de todos, na procura de soluções conjuntas e inclusivas.
O grito do nosso povo não exige acção impossível. Ele requer soluções básicas que protejam a dignidade humana.
Dialoguemos para devolvermos a harmonia social de que todos precisamos, pois o povo não quer discursos vazios.
É preciso agir com urgência e sabedoria!