Mago De Sousa justifica este novo desafio da seguinte forma: Só para ter uma noção, já passei por mais de 12 países a levar aquilo que é a nossa cultura e, entretanto, motivei-me através de alguns estudos com amigos e acadêmicos da Universidade Nova de Lisboa. Escrevi a obra intitulada Diplomacia Cultural e o Seu Papel na Imagem Externa de Angola.
Sabe-se que quando se promove a cultura a nível internacional tem relação direta com a política externa do país. A promoção dos nossos valores, das nossas crenças, da nossa tradição não tem sido feita da forma como gostaríamos de comunicar para o exterior. Uma particularidade interessante, e infelizmente é assim: por exemplo, se for ao Brasil e falar sobre Angola, muitos pensam que África é um país e muito pouco sabem sobre a cultura africana, angolana.
É importante mesmo que Angola divulgue a sua cultura para o exterior, não é? É importante, uma vez que nós celebramos este ano 50 anos de independência. Vou só fazer aqui um enquadramento rápido. Se olharmos para alguns exemplos, como a Inglaterra: em 1960, a 21 de julho, nascia o grupo Os Beatles. Os Beatles tornaram-se na maior influência da cultura de Londres, a partir da cidade de Liverpool, para o mundo.
Entretanto, países que não tinham boas relações com a Inglaterra começaram a ter curiosidade em saber mais sobre o país através do conjunto musical Os Beatles. Portanto, eu olho para o nosso país como uma potência em termos de cultura. Por tudo aquilo que tenho como experiência, pela minha vivência, acho que a percepção que o mundo tem de Angola não é errada, mas também não é real.
É importante nós tentarmos passar alguns elementos importantes da nossa cultura e torná-la o ponto mais alto da nossa imagem lá fora. Acha que, através da nossa música, também é possível, como os Beatles fizeram, despertar o interesse do exterior por Angola? É possível. Temos agora um exemplo claro: a Kizomba hoje é, se não o terceiro, o quarto estilo musical mais consumido na Europa. Tornou-se uma febre. Há mesmo interesse. Conheço mais de 50 ou 60 pessoas com quem já me cruzei aqui nas ruas de Luanda e que vieram conhecer o nosso país por intermédio dos festivais em que participei.
Isso faz com que venham turistas a conhecer o país, com que tenham interesse em investigar a nossa cultura e, consequentemente, que tragam investimento financeiro. Como dizia o geopolítico americano Joseph Nye, a diplomacia cultural é a capacidade de persuasão e atração, e a perceção dos outros países sobre aquilo que é nosso.
Acho que tudo neste livro faz sentido ao momento que o nosso país vive. Como já disse há pouco tempo, volto a frisar: somos uma potência. E vejo a forma como o mundo quer conhecer Angola. Já têm acompanhado os movimentos da Kizomba por este mundo afora. E não só a Kizomba. Por exemplo, neste serviço informativo, vamos passar uma peça relacionada a uma japonesa que não fala português, mas dança kuduro como ninguém. É tudo parte da nossa cultura.
Só para realçar, há pouco tempo gostei quando entrei cá ao estúdio e a caríssima jornalista e outra senhora falavam com entusiasmo sobre assistir ao jogo do Afro Basquetebol. Eu acho que essas manifestações culturais e desportivas é que unem o país e fazem com que as pessoas tenham curiosidade em saber mais sobre nós. O que nos une, no final do dia, são as grandes manifestações culturais.
Falei nesta obra dos Beatles, da Kizomba. Tudo o que é cultural ajuda no crescimento socioeconómico de uma sociedade. Educa. Antes de começarmos a entrevista, falávamos que despertámos o interesse em conhecer Hollywood e os Estados Unidos através dos filmes e séries que vimos. Acha que é possível também fazermos o mesmo aqui? Despertar o interesse estrangeiro através da arte? É possível.
Só para ter noção, o pessoal que vem de fora para Angola faz planos de férias, quer estar num sítio acomodado, o que gera investimento — na hotelaria, na gastronomia e tudo mais. O conceito de diplomacia cultural começa com a Aliança Francesa. Depois surgiram outros movimentos como o American House, o British Council, e estes países são exemplo para muitos países africanos que conseguiram se tornar potências culturais.
Se olhar para todas as colónias francesas, são culturalmente muito fortes. Temos o Congo, por exemplo. Quase todo congolês sabe cantar, tocar algum instrumento, sabe traçar, tem uma cultura forte em termos de gastronomia. É um trabalho fruto do que beberam da Aliança Francesa. A América estreou-se no mundo com as grandes indústrias como Hollywood, a pop music, e tornou-se um centro da cultura mundial.
O meu objetivo com esta obra é procurar persuadir as pessoas e estimular este sentimento de pertença à promoção da nossa cultura a nível internacional.
Já para terminar: o que é que cada um, a título individual, pode fazer para a promoção da cultura lá fora? Ainda que não saia propriamente do país, o que pode fazer no seu círculo? É identificar-se como angolano. Quando falo de diplomacia cultural, não pode ser confundida com propaganda ideológica. A cultura é de todos, e todos nós nos devemos rever naquilo que é nosso.
Acho que, sendo angolano, pelo menos no sábado tenho o hábito de ouvir o que é nosso, de comer o que é nosso. E isso faz com que muitos amigos meus lá fora, quando vão à minha casa, digam: “O Mago tem o hábito de, no sábado, fazer isto.” Isso é cultura. Então, acho que, respondendo à sua pergunta, basta saber ser angolano.
Repórter Siona Júnior