
Organizações juvenis mais críticas e independentes — como a MEA, JFNLA, JURS (Juventude de Renovação Social) e AJA — reconhecem a legalidade do mandato de Isaías Kalunga à frente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ). A crise, sustentam fontes internas, nasce sobretudo em organizações juvenis próximas ao MPLA, que contestam a actual liderança e alimentam a percepção pública de instabilidade.
Investigação revela clivagens políticas dentro do CNJ
Uma investigação conduzida ao longo das últimas semanas mostra que a disputa em torno da presidência de Isaías Kalunga no CNJ não é apenas institucional, mas profundamente política. Diversas fontes ouvidas — incluindo dirigentes de base, membros associados e antigos quadros do CNJ — confirmam que as organizações independentes ou historicamente opositoras reconhecem sem reservas a legalidade do mandato actualmente em exercício.
Entre essas estruturas contam-se a MEA, a JFNLA, a JURS e a AJA, que têm insistido na necessidade de transparência, estabilidade e respeito pelos processos eleitorais já concluídos. Estas organizações sublinham que, goste-se ou não da liderança, não existe fundamento jurídico sólido para contestar o mandato.
Quem está a criar o ruído?
Nas camadas internas do CNJ, porém, a contestação tem outra origem: organizações juvenis alinhadas ou politicamente próximas ao MPLA, que pressionam por uma recomposição interna e questionam publicamente a legitimidade de Kalunga.
Fontes próximas ao processo apontam três factores principais para a turbulência:
Disputa por influência política
Para sectores juvenis ligados ao MPLA, controlar o CNJ é estratégico. O Conselho é uma das maiores plataformas de mobilização juvenil do país, e a liderança pode influenciar agendas políticas e programas sociais.
Pressão partidária por mudança de liderança
Alguns dirigentes que integram estruturas juvenis próximas ao partido no poder estariam descontentes com o estilo de gestão de Kalunga e pretendem vê-lo substituído por alguém com maior alinhamento político.
Conflito entre juventude crítica e juventude partidária
O CNJ tornou-se palco de uma disputa entre juventude independente, que exige autonomia institucional, e juventude partidária, que tenta manter o órgão dentro de uma lógica de controlo político.
Legalidade não está em causa — mas sim a disputa pelo poder
Documentos consultados por esta investigação indicam que os procedimentos que levaram ao actual mandato foram validados pelas comissões competentes, e não há registos de irregularidades formais que sustentem a narrativa de ilegitimidade.
O conflito, portanto, parece menos jurídico e mais uma batalha pela hegemonia dentro do movimento juvenil angolano.
Risco de desgaste público
Analistas consultados alertam que a insistência em desestabilizar a liderança do CNJ pode agravar o descrédito das instituições juvenis e afastar ainda mais os jovens da participação cívica. A crise actual, dizem, serve mais a interesses partidários do que ao desenvolvimento da juventude angolana.
Conclusão
Enquanto MEA, JFNLA, JURS e AJA pedem respeito pelas normas e estabilidade institucional, o epicentro da contestação permanece concentrado em organizações juvenis com forte proximidade ao MPLA. A disputa em torno de Isaías Kalunga revela, acima de tudo, a luta contínua pela influência sobre o maior órgão juvenil do país — uma luta onde a política partidária continua a sobrepor-se às necessidades reais da juventude angolana.
Jornalista Siona Júnior