Um ambiente de tensão e suspeição marca a corrida à liderança da Ordem dos Médicos de Angola, após denúncias de que um dirigente sénior do MPLA terá ameaçado o médico Pedro da Rosa, candidato assumido ao cargo de bastonário, exigindo que este retirasse a sua candidatura sob pena de represálias políticas e profissionais.
Segundo fontes próximas ao processo eleitoral, o episódio ocorreu durante um encontro privado, em que o dirigente partidário terá deixado claro que a continuidade de Pedro da Rosa na disputa não seria bem-vista por determinados círculos de poder. A alegada intimidação coloca em causa a independência da Ordem dos Médicos, uma instituição que, pela sua natureza, deveria pautar-se pela autonomia e pelo interesse da classe médica, longe de pressões políticas externas.
A candidatura de Pedro da Rosa tem ganho destaque por apresentar uma agenda de ruptura, centrada na defesa intransigente da ética médica, na melhoria das condições laborais dos profissionais de saúde e na denúncia de casos de corrupção na gestão hospitalar. Essa postura crítica, apontam analistas, pode ter despertado desconforto em sectores habituados a controlar as principais ordens profissionais do país.
Apesar das pressões, até ao momento, Pedro da Rosa mantém-se firme, tendo reforçado, em declarações públicas, que a sua candidatura é “um exercício de cidadania e de compromisso com a classe médica, que não pode ser coartado por intimidações ou jogos políticos”.
Juristas e observadores da sociedade civil alertam que se confirmadas, as ameaças configuram uma violação grave do princípio de liberdade de associação e do direito à participação democrática em organizações de interesse público. “A interferência partidária nas ordens profissionais mina a sua credibilidade e compromete o papel fiscalizador que estas devem ter na sociedade”, afirmou um académico ouvido pelo nosso jornal.
O caso levanta também questões sobre a transparência e a legitimidade do processo eleitoral na Ordem dos Médicos, que se prepara para um dos pleitos mais disputados da sua história. A eventual instrumentalização política do órgão pode, segundo especialistas, transformar uma eleição corporativa num palco de luta pelo controlo ideológico e institucional.
Enquanto isso, cresce a expectativa entre os médicos e a sociedade civil sobre os desdobramentos desta denúncia, que poderá não só redefinir os contornos da eleição, como também reacender o debate em torno da ingerência política em instituições que deveriam ser independentes e ao serviço exclusivo da profissão e do interesse público. Oiça a entrevista