Quinta-feira, Outubro 23, 2025

A AUSÊNCIA DE JOÃO LOURENÇO NO CONGRESSO DA RECONCILIAÇÃO: UM SILÊNCIO QUE ECOA NA PACIFICAÇÃO NACIONAL

A ausência do Chefe de Estado num evento de tal magnitude não pode ser interpretada como um simples lapso de agenda.

Por: apostolado
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A reconciliação nacional é, sem dúvida, um dos pilares mais sensíveis e urgentes da sociedade angolana contemporânea. Décadas após o fim do conflito armado, o país ainda carrega feridas abertas que exigem não apenas discursos, mas gestos concretos de aproximação, reconhecimento e perdão. Nesse contexto, a ausência do Presidente João Lourenço no Congresso da Reconciliação Nacional gerou perplexidade e frustração entre muitos angolanos, reavivando o debate sobre o real compromisso do governo com a pacificação efetiva do país.

 

A ausência do Chefe de Estado num evento de tal magnitude não pode ser interpretada como um simples lapso de agenda. Pelo contrário, carrega um simbolismo político profundo. Num momento em que várias forças vivas da nação — desde antigos combatentes até representantes da sociedade civil — buscavam reafirmar a importância do diálogo e da união, o vazio deixado pela cadeira presidencial foi, para muitos, um sinal de distanciamento e falta de sensibilidade.

 

Entre as possíveis causas dessa ausência, destacam-se divergências políticas internas, a tentativa de evitar confrontos simbólicos com figuras históricas da oposição, ou mesmo a estratégia de não se expor a críticas diretas em um ambiente onde a dor da guerra e da exclusão ainda se fazem sentir. Seja qual for o motivo, o efeito prático foi o mesmo: o enfraquecimento da mensagem de reconciliação que o congresso pretendia transmitir.

 

As consequências políticas e sociais desse gesto são preocupantes. Num país onde a confiança nas instituições públicas ainda é frágil, a ausência do Presidente tende a reforçar o sentimento de descrédito e distanciamento entre o poder e o povo. A reconciliação, afinal, não se constrói apenas com palavras — exige presença, escuta e empatia. Sem o engajamento direto das mais altas autoridades, os apelos à unidade nacional soam vazios e protocolários.

 

Mais do que nunca, Angola precisa de gestos de grandeza. Um verdadeiro processo de pacificação requer coragem política para enfrentar o passado e humildade para reconhecer erros. João Lourenço, que tem buscado projetar-se como líder reformista e modernizador, perdeu uma oportunidade histórica de reafirmar seu papel como promotor da coesão nacional.

 

O congresso vai acontecer, mas o debate está longe de se encerrar. A reconciliação não pode ser apenas um evento — deve ser uma prática contínua, sustentada pelo exemplo. E, neste momento, o exemplo faltou.

Jornalista Siona Júnior

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