O anúncio do fim dos Tuneza marca o encerramento de um dos capítulos mais marcantes da comédia angolana contemporânea. Depois de anos a fazer o país rir com personagens icónicas como Ti Martins, General Foge a Tempo e Bolinha, o grupo decidiu que era hora de cada um seguir o seu próprio percurso artístico. A separação não é apenas o fim de um coletivo humorístico: é também o começo de uma nova fase cultural, que desafia cada membro a reinventar-se longe da engrenagem que os consagrou.
Ao longo da última década, os Tuneza tornaram-se referência obrigatória quando se fala de humor nacional. Dominavam palcos, rádios e televisões; transformavam o quotidiano angolano em matéria-prima para riso; criavam bordões que entraram no vocabulário popular com naturalidade. O público não acompanhava apenas os sketches — acompanhava personagens que se tornaram quase familiares. Ti Martins, com a sua postura crítica e irónica; General Foge a Tempo, símbolo da esperteza e do improviso; e Bolinha, mestre da inocência humorística, construíram identidades que ultrapassaram o grupo.
O fim do colectivo pode soar, à primeira vista, como uma perda irreparável. Mas também deve ser encarado como uma oportunidade. A solo, cada um tem a possibilidade de explorar nuances que, talvez, a dinâmica de grupo limitasse. O humor angolano cresce quando os seus criadores evoluem — e essa evolução, por vezes, exige rupturas.
Ainda assim, é impossível não sentir uma pontada de nostalgia. Os Tuneza definiram uma era. Foram espelho da sociedade e, ao mesmo tempo, catarse. Deixaram memórias, diálogos, cenas e gargalhadas que continuam vivas. Ficam na história não apenas como um grupo de humoristas, mas como cronistas do quotidiano angolano.
Se cada um seguirá o seu caminho, que seja com a maturidade artística que construíram juntos — e com o reconhecimento de que, separados ou unidos, continuam parte essencial do nosso imaginário humorístico. O fim dos Tuneza não apaga a sua marca: apenas abre novas páginas para quem já aprendeu a escrever comédia com maestria.
Jornalista Siona Júnior