Os médicos não deram voltas para confirmar a ‘paragem’. Soraia esforça-se para contar à Rádio Luanda os traços da tragédia. Tem voz rouca e usa vocábulos que parecem de classe média. Foi com ela, afinal, que a mãe passara os últimos momentos em vida. Nesse dia, já a madrugada à espreita, Soraia acordara ao grito de socorro de um irmão. A mãe está no chão, inanimada. O sangue está visível na roupa preta que o algoz (ele mesmo) colocara no corpo da vítima para confundir as investigações. O momento não é de explicações. Soraia e irmãos tentam, desesperados, ir atrás de um milagre médico. Mas já é tarde! A morte da professora é uma certeza. E as ‘peças’ para a identificação do homicida estão, cada vez mais, evidentes: um dos quartos da casa, localizada no bairro Sapú, está manchado de sangue, lá estão, também, as vestes com que a vítima se deitara, todas avermelhadas. Soraia não disse à reportagem da ‘Kianda’ se a mãe chegara a contar à irmã o que sucedera dias atrás. Era queixa feia. A vítima temia que a irmã não ‘aguentasse’ ao ouvir o que o que o filho desta — feito membro da casa da tia — aprontara: o suspeito, com quem a vítima partilhava negócios de construção, furtara o multicaixa da tia-sócia e retirara dele somas financeiras não especificadas. As câmaras da agência bancária, localizada nos arredores do bairro, captaram todo o movimento. Há, também, registos claros nos arquivos de videovigilância da própria casa, agora enlutada. Mas nada que fosse suficiente para inibir o cometimento de tão cruel crime. Tragédia em Luanda, mais uma!
Por Vitória Maviluka