Burkina Faso expulsa jornalistas de Le Monde e Libération

O Burkina Faso testemunhou dois golpes no ano passado e continua a lutar contra uma insurgência jihadista que se espalhou do vizinho Mali, em 2015.

“A nossa correspondente no Burkina Faso, Sophie Douce, foi expulsa do país… ao mesmo tempo que o colega do Libération, Agnes Faivre”, anunciou o vespertino Le Monde.

As autoridades convocaram as duas jornalistas na noite de sexta-feira e deram-lhes 24 horas para deixarem o país. As duas correspondentes francesas desembarcaram em Paris na manhã de domingo, disse.

Sophie Douce e Agnès Faivre receberam ordens de deixar Ouagadougou no sábado, 1 de Abril, sem serem notificadas de qualquer motivo para expulsão
O jornal Le Monde condenou o que chamou de decisão arbitrária nos termos mais fortes e exigiu que as autoridades a rescindissem da decisão.

Libération “protesta vigorosamente contra estas expulsões absolutamente injustificadas” e sugeriu que estavam relacionadas com a uma investigação publicada no início da semana. “A publicação a 27 de Março de uma investigação do Libération sobre as circunstâncias em que um vídeo foi filmado, mostrando crianças e adolescentes a serem executados num quartel militar por um soldado não agradou a Junta no poder em Burkina Faso”, descreve o jornal.

Depois da publicação do artigo, o porta-voz do governo de transição, Jean-Emmanuel Ouedraogo, condenou “veementemente as manipulações disfarçadas de jornalismo para manchar a imagem do país”.

O investigador doutorando no Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Bordéus, Régio Conrado, lembra que existe um sentimento crescente contra os órgãos de comunicação franceses.

“Há um sentimento generalizado não só na Guiné-Bissau, no Mali, em países como a Guiné Conacri ou o Burkina Faso. A Junta militar considera que esses dois meios de comunicação sociais franceses produziam informações que não condiziam com os factos que ocorriam no terreno. Talvez tenhamos que aceitar que existe uma certa sensibilidade por parte de alguns Estados africanos em relação a narrativas produzidas por meios de comunicação ocidentais”, afirma o investigador.

As autoridades do Burkina Faso suspenderam todas as transmissões da France 24 na segunda-feira, 27 de Março, depois do canal ter transmitido uma entrevista ao chefe da Al Qaeda no norte de África, alegando tratar-se de “parte de um processo de legitimação da mensagem terrorista”. “Conhecemos os efeitos desta mensagem neste país”, disse o governo de transição. França 24 respondeu que a crise de segurança que o país atravessa “não deve ser pretexto para calar os órgãos de comunicação”.

A Junta militar também suspendeu as emissões da Radio France Internationale (RFI), que pertence ao mesmo grupo France Medias Monde da France 24, em Dezembro, acusando-a de veicular uma “mensagem de intimidação” atribuída a um “chefe terrorista”.

“Há um grande eco que se está a dar em relação à expulsão desses jornalistas, mas também há um eco quanto à suspensão da France24 e da RFI. Sabemos que a própria França suspendeu canais como Sputnik e RT em França, sem que houvesse uma legitimidade legal, em violação clara daquilo que é a liberdade de expressão e de imprensa, justificando a mera ideia de que eram instrumentos de propaganda. Os órgãos de comunicação ocidentais são, muitas vezes, uma extensão do discurso do poder dos respectivos países. Pode haver jornalistas equilibrados, que tentam gerir a tentativa de imposição de uma linha. O que se constata é que quando o poder francês é hostil a determinados países, há um discurso de continuidade nos meios de comunicação ocidentais, em particular nos franceses”, descreve o investigador Régio Conrado.

Os soldados no Burkina Faso, um dos países mais pobres do mundo, realizaram dois golpes em 2022, devido ao seu fracasso em enfrentar a ameaça de grupos jihadistas. Mais de 10.000 civis, soldados e polícias morreram, de acordo com dados de uma ONG, e pelo menos dois milhões de pessoas foram deslocadas. Dados oficiais confirmam que os jihadistas controlam cerca de 40% do país.

O líder da Junta militar, o capitão Ibrahim Traoré, prometeu recuperar o território perdido depois de assumir o poder em Setembro, mas os ataques aumentaram desde o início do ano, com dezenas de soldados e civis mortos todas as semanas.

Fonte: Rfi

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